O barulho do sol, ao se pôr no Pacífico....



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Escatologias d'água

Há algo que se contorce por dentro de dentro para dentro. Uma inexplicável corrosão decorrente da ausência de você de nós de algo que acontece entre o ínfimo espaço que resta entre uma pele e outra. Tenho então a pressa de um rio que se sabe perto da foz e quer desaguar-se em mil águas. O choque do encontro e a paz da mistura e tudo aquilo que cresce nesse mangue escuro e secreto. Dentro, bem dentro. No silêncio do poço fundo dos meus olhos escuros, lê-se. Vem.

Mas aí vem o fogo e a relva a noite e o frio e sei que nos colchões de ferro estou sozinha. Que no meio de tanta mata e pântanos  que me entranham não há de ser você quem terá coragem de entrar e percorrer. E esse exercício de ter que desnudar-me a mim a você ao mundo me esfolia a pele e vejo sangrar as pernas entre as pernas pelas pernas.

Nada disso faz sentido e esse é todo o sentido das coisas. Não é preciso ter explicação para que haja significado. O que não impede que doa que tenha doído ao perceber que não entende a minha água e sal. Que continua doce. Nega a foz. Não importa o estrondo da chegada ao mar, é o rio que muda o seu próprio curso que se afunda em bancos de areia ou seca em craquelados de sertão.

Você mantem a sua própria água turva para que não possa enxergar a lama do fundo. Eu, revolta com as marés vomito as areias em praias abertas. Expondo as entranhas ao céu. Um céu que olha para as estrelas. No fim tudo mais do mesmo, sua lama coberta e minhas areias expostas para um céu cego.

Parecem desmedidas mas há um claro intuito nas linhas. Pedir que o seu rio deixe de correr ao meu mar. É simples. Afinal há rios que morrem em outros lagos. Não é?

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2 comentários:

  1. O rio pode desaguar em mil águas, como é da sua natureza, mas só espero que elas não sejam muuuuito profundas, pra que eu possa acompanhar num mergulho possível. Tenho um ouvido meio estragado, você sabe... :)
    Saudades!

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  2. desagua en arenas muertas que se renuevan
    en palabras bellas como las suyas
    que esas aguas como las poesías de la vida
    sean infinitas...

    Alice Stamato

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