O barulho do sol, ao se pôr no Pacífico....



terça-feira, 15 de março de 2011

Carta aberta ao Di, ou Dé, ou Eli ou Luana. Ou como transformar alguma coisa em outra.

Vivemos no mundo do sms, do msn, do txt, do itudo. Da instantaneidade da transmissão do pensamento. E esse pensamento tem limite de caracteres. Tropeçamos por letras e caras feitas de símbolos gráficos. Não se vê fluidez nessa modernidade, ainda que eu saiba que o líquido do Baumann encontra incontáveis pedras pelo caminho. E tudo que deixamos de dizer com as palavras se perde em algum lugar do tempo espaço e some na vacuidade da vida breve a qual estamos condenados. Frase sem pausas. Como amo Saramago.... Volta meu caro amigo, que a coisa aqui tá preta.

Em protesto a essa supervalorização de um suposto senso comum em decorrência da necessidade do sucinto, da obviedade quase clarevidente da mensagem, dos jingles de publicidade e das músicas pops que ouvimos nas rádios, as mesmas piadas repetidas nos filmes com o mesmo final tragicômico romântico ou aventura 3D... (Os exemplos fizeram-se tantos que pude abrir parêntesis. Ah, que saudade dos parêntesis, dos hífens e travessões. E o dois pontos, por onde andará?) escrevi estas Variações Enigmáticas. Elgar, não se preocupe, se eles não sabem, poderão sempre utilizar-se do todo onisciente Google.

Decidi-me pelas variações pelo simples gozo de mostrar que existem muitas outras palavras que não aquelas já tão rimadas. Ou seja, parti de um material que poderia estar em qualquer música ou outdoor. Já digo de antemão que não tenho culpa se não gostarem. Afinal, alguma fidelidade ao tema é pré-requisito da variação.

Vamos a elas.

Variação I (ou a Erudita)

Cada dia
mais um dia
Silencioso
assisto a você
partir
os meus pedaços
Já estilhaçados
pelo chão
Dor de quebrar-se
colada
Pela delícia
de suas mãos.

A eteridade
do presente
No calor vazio
de teus lábios
Abraçamos
essa vertigem
de cortar
E saber-se parte.
Juntar os cacos
E fazer um jarro
Da infinitude
Da matéria.


Variação II (ou Nem ao céu, nem ao mar)

Cai mais uma vez
A cortina rasgada
Há um eterno bis
Na sua boca cortada
Me fez tão mal...
Mas quero outra vez.
Me fez tão mal....
Por que quero outra vez?

E as paredes se derretem
por um frio calor vão
Os teus beijos me remetem
A uma estranha solidão.
Ainda que houvesse tinta para dar outra cor
Preferimos a segurança cinza desse estupor
Me fez tão mal...
E quero outra vez.
Me fez tal mal...
Para acabar de vez.

Variação III (ou Essa é pra tocar na rádio)

Minha vida está acabada
Mais uma página rasgada
Nada de mim sobrou
Depois que você chegou
Me fez de gato e sapato
Mas pelo teu amor
Pago qualquer pato.

Nosso quarto está fervendo
E nessa cama vou morrendo
Nos teus estranhos beijos
Encontro nenhum remeleixo
A porta já vai se abriiiir, meu amor
E vamos ter que partiiiiiiiiiirrr
Você me fez de gato e sapato
Mas pelo teu prazer
Pago qualquer pato.


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